11 de ago. de 2012

O lado prosaico

Na manhã de domingo, São Paulo parece outra cidade, tranqüila, trânsito quase parando. Na Alameda Lorena, entre a Haddock Lobo e a Augusta, repete-se a feira livre das quintas-feiras. Dois motoqueiros param na sinaleira e um fala pro outro: “Depois, a gente volta pra comer um pastel”.

O pastel é o ponto alto da feira. Cinco ou seis mulheres se encarregam de frita-los, enquanto os freguezes esperam, sentados em banquetas altas, à volta do balcão em formato de círculo. É o lado prosaico dos paulistas, o retorno à simplicidade, no bairro sofisticado, onde os restaurantes apresentam preços altíssimos, aceitos com naturalidade.

A feira livre é prazer para os olhos. Há uma profusão de frutas, acondicionadas com capricho sobre a longa extensão de um balcão; legumes e verduras, da mesma forma, já estão nas embalagens adequadas, em pequenas porções, em outro balcão. A impressão é de que poucos fornecedores comparecem, aos domingos (uma única quadra), o que não faz diferença, pois trazem produtos de primeira, suficientes para atender às necessidades emergenciais. Ou a feira é apenas a motivação para sair de casa, encontrar algum amigo, comer um pastel.

As flores também merecem atenção especial, reunidas no que deve ser uma única floricultura. Escolho uma mini-orquídea para presentear a amiga onde iremos almoçar; a vendedora me faz sentir o perfume e eu, que tanto aprecio orquídeas, penso que nunca percebi se seriam perfumadas. Ou talvez só algumas sejam.

Na Oscar Freire e arredores, o comércio abre, aos domingos, entre 11h e 18h. Turistas, locais e moradores de outros bairros aproveitam para curtir o comércio elegante, no final da liquidação de inverno; em algumas lojas, os preços sofreram rebaixa de 70%. Em São Paulo, talvez pela disparidade do clima, um dia quente, outro frio, ou para aproveitar as férias escolares, as liquidações começam no início de julho, atraindo compradores de outras cidades. E a diferença é que incluem artigos de verão, decerto remanescentes da coleção anterior. Mas, independente das liquidações, o domingo atrai grande público para a Oscar Freire, pelo prazer de circular pela rua remodelada, olhar as vitrines convidativas, tomar um café, apreciando o movimento.

No final de 2006, a Oscar Freire sofreu ampla reforma: a fiação elétrica foi aterrada e 100 postes removidos; as calçadas foram niveladas; ipês plantados onde os postes foram retirados; bancos colocados em lugares estratégicos. O alto custo da reforma contou com 50% de participação da prefeitura, parte substancial financiada pela operadora de cartão de crédito American Express, além do suporte financeiro proporcionado pelos lojistas _ segundo o jornal Folha de São Paulo. Valeu a pena o investimento, pois, numa cidade cheia de shopping centers, a Oscar Freire garante o seu lugar na preferência do consumidor exigente, além de ser considerada entre as oito mais refinadas ruas do mundo. E o interessante é que, pelo fato de não ser calçadão, os automóveis circulam, normalmente.

Também na Alameda Lorena, fervilham os cafés, enchem os restaurantes, alguns com mesas e cadeiras na rua. Vigilantes de preto, uniformizados, garantem a segurança, à frente de muitos estabelecimentos comerciais. Ouvem-se diferentes idiomas; São Paulo é cosmopolita e acolhedora.

Aos domingos, a cidade se permite relaxar, acordar mais tarde, espreguiçar-se. Por isso, é gostoso caminhar pela feira livre, desfrutando a paz de quem acordou de bem com a vida e foi saborear o seu pastel.

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