3 de mai. de 2006

Sabonete de glicerina

O médico dermatologista falou para usar só sabonete de glicerina. Fiquei triste, no primeiro momento. Gosto de sabonetes indiscretos, que perfumam a casa, acusando banhos a portas fechadas.
De repente, esse prazer me foi roubado. Junto com outros, é verdade: também fui proibida de colocar esmalte, além dos hidratantes e cremes corporais preferidos, devendo restringir-me às fórmulas por ele prescritas.
Mas, como com alergia não se brinca, saí do consultório médico e a primeira atitude foi comprar os tais sabonetes. Para minha surpresa,gostei. Modestamente, até fiquei encantada com a capacidade pessoal de adaptação, aceitando as limitações, sem revolta ou perguntas do tipo: “Por que só comigo”? Pensei que devia ser sinal de maturidade, essa recusa à frustração.
Aí abri o jornal e li sobre mais corrupção escancarada, CPIs que chegaram ao final, com inúmeras comprovações e castigo nenhum, acobertamento geral, festejado com passos de dança, sorrisos de alívio e aplausos. Senti-me completa idiota, lembrando dos dias e noites perdidos em frente à TV, assistindo, como grande parte da população brasileira, ao cair das máscaras de tantos políticos. Lembrei a esperança e a credulidade, a certeza de que os maus seriam castigados e a nação encontraria o seu caminho de volta à ordem e ao progresso.
Senti vontade de nunca mais assistir aos noticiários, para poder ignorar os acordos realizados entre pretensos opositores. Desejei não saber o que contam as revistas semanais e os jornais diários, deletar todos os e-mails que desmascaram falcatruas dos candidatos às próximas eleições, colocando-os numa vala comum de hipocrisia, sordidez e aproveitamento em benefício próprio. A contragosto, tentei engolir a pizza imposta, mas ela trancou na garganta.
Descobri que não há força que nos faça aceitar a mentira, a desonestidade, o descaramento e a corrupção como naturais. Que, se aceitarmos baixar a cabeça e fingir que não ouvimos nem vimos, portanto nada sabemos, teremos que conservar os olhos baixos, para evitar o olhar das nossas crianças e dos jovens, cobrando-nos a coragem que lhes ensinamos. Se não soubermos desfraldar a bandeira das nossas crenças, precisaremos conviver com a sua falta de fé. Se não nos fizermos responsáveis, assumindo os postos para os quais tivermos capacidade, teremos que aceitar a sua irresponsabilidade e omissão.
O primeiro teste de alergia já detectou que, entre doze produtos usados no cotidiano, sou alérgica a quatro. Sabe-se lá o que mais descobrirão os novos testes e a quantas privações terei que me submeter, mas estou de acordo: é para o meu bem, como diria a minha mãe. Ao contrário, espero jamais perder a capacidade de me indignar e que a indignação seja tão grande e generalizada, que ela alcance os mais longínquos recantos deste país, fazendo forte a voz das urnas, para que o seu grito de repúdio seja alerta aos novos governantes.
Porque, se não nos opusermos através do voto, única arma de que dispomos _ impedindo a reeleição de quantos foram desmascarados _ estaremos concordando com a sem-vergonhice e o oportunismo e dizendo ao mundo que eles estão certos, somos mesmo o país do jeitinho e da falta de credibilidade.

7 comentários:

Anônimo disse...

Desejo-lhe todo o sucesso no seu novo Blog! Beijo do seu filho.

NYC TAXI SHOTS disse...

@^UEJ

Anônimo disse...

A sra usa a coitada da glicerina como isca para que as pessoas leiam as bobagens que a sra escreve, por favor, só algum retardado vai fazer alguma analogia entre "alergia" e filosofia barata.

Anônimo disse...

Pois para mim e exatamente a glicerina o que me causa alergia ha 2anos e meio, da pra acreditar?

Anônimo disse...

Agora ficou mais fácil a comunicação....Adoro tuas crônicas...bjs Lulu

Unknown disse...

O que tem a ver alergia e corrupção? Sinceramente, você mudou totalmente de assunto.

Papo de Anjo Doces e Chocolates Finos disse...

Que viagem meu irmão hahahahaha