27 de jun. de 2006

Balneário Santo Antônio

As águas vinham morrer na praia em ondas suaves e submissas e se entregavam à areia branca; o sol nascia em esplendor, muito além dos verdes campos, na linha onde céu e lagoa se encontram; na noite de luar, a tropilha de cavalos galopava, festejando a liberdade.A poucos olhos era dado presenciar a indescritível beleza do espetáculo, neste pedaço do paraíso, no tempo de que falo.

A antiga Estância de Nossa Senhora dos Prazeres das Pilotas, parte da sesmaria recebida pelo coronel Thomaz Luiz Osório _ situada a cerca de 15 km da cidade de Pelotas, com longa extensão de terras às margens da Lagoa dos Patos _ através de sucessivas heranças, desmembrara-se, dando lugar à formação de novas estâncias. Entre essas, a propriedade pertencente a José Maria da Fontoura, que passou a se chamar Laranjal, pela grande quantidade de laranjas cultivadas.

José Maria, sendo solteiro, ao morrer legou-a ao médico e sobrinho Antônio Augusto de Assumpção, Antonico, casado com Leocádia Tavares de Assumpção, Mimosa, depois passando para o filho homônimo, o advogado Dr. Antônio Augusto de Assumpção Jr.
Sendo a praia propriedade particular, somente aos familiares e aos amigos era proporcionado desfrutar do aprazível local, permissão disputada pelos veranistas, que vinham passar as férias nas estâncias à beira da Lagoa dos Patos. A permissão, concedida por escrito e motivo de grande alegria, quando recebida, era entregue ao funcionário na porteira da entrada.

O acesso ao local era muito difícil, a passagem do arroio Pelotas sendo feita numa balsa da família Assumpção, apelidada de “Ferro de engomar”, pelo seu feitio.
Com o passar do tempo, à sombra das figueiras centenárias da Estância do Laranjal, chalés e cabanas, com trilhas no meio do mato nativo, foram construídas pelos veranistas costumeiros, para seu maior conforto. Outros montavam barracas, que ali permaneciam durante todo o verão.

As famílias dos veranistas se revezavam, todas as manhãs, para buscar na mangueira da estância o leite recém tirado das vacas holandesas.

Em 1947, na gestão do então prefeito, Dr. Procópio Duval Gomes de Freitas,foi inaugurada a ponte de madeira de acesso ao Laranjal, localizada no final da Vila da Palha. A ponte era fechada à noite e, durante o dia, era cobrado pedágio pela passagem dos veículos.

Em virtude da construção da ponte, passou a ser intenso o movimento em frente à sede das estâncias, principalmente aos sábados e domingos, por ser a única maneira de chegar à praia. Diante do alpendre do solar do Laranjal, passavam gaúchos a cavalo, charretes e caminhões lotados, os banhistas carregando câmaras de pneus para servirem de bóias.

Sentindo como as pessoas apreciavam a praia e o contato com a natureza, Dr. Antônio Augusto de Assumpção Jr, mais conhecido por Assumpção Jr, decidiu fundar a Vila Residencial Balneária Santo Antônio, em terras de sua propriedade, na estância do Laranjal, às margens da Lagoa dos Patos, logo obtendo o apoio entusiasta de sua esposa, Zilda Tavares de Assumpção.

Para a realização do empreendimento, contratou os serviços do amigo Adolfo Bender, engenheiro-agrônomo, que compreendeu o espírito empreendedor e foi grande auxiliar no desenvolvimento das obras.

O lançamento da pedra fundamental foi em 27 de maio de 1950.

Realizada a drenagem dos banhados e a terraplanagem necessária, feita a urbanização, com a abertura das ruas, medição e divisão dos terrenos, os planos saíram do papel e os lotes começaram a ser vendidos, com grande sucesso.

Em razão do espírito pioneiro de preservação ecológica, o traçado das ruas obedeceu à preservação das figueiras adultas, sendo feito o contorno em volta delas, quando necessário.

À primeira avenida de acesso à praia construída, o Assumpção Jr deu o nome de José Maria da Fontoura, em homenagem ao antigo proprietário. Na avenida da orla da lagoa, foram plantadas mudas de figueiras, intercaladas com coqueiros transplantados.
Significativas doações de terrenos foram feitas, como o da Igreja Santo Antônio e o do Hospital Pronto-Socorro.

No dia da inauguração do balneário, 31 de janeiro de 1952, uma procissão saiu da sede da Estância do Laranjal, conduzindo a imagem de Santo Antônio até o Santuário, onde foi celebrada uma missa campal por dom Antônio Zattera, bispo diocesano.
Mais tarde, sentindo-se doente, Assumpção Jr recebeu o apoio de Adolfo Fetter, que se apaixonou pelo empreendimento e comprou os lotes, em maio de 1954, continuando a obra.

Em 20 de agosto de 1954, faleceu Assumpção Jr.

Em dezembro de 1954, a diretoria e sócios do Laranjal Praia Clube, junto com diversas pessoas da comunidade já formada no Laranjal, autoridades civis, militares e eclesiásticas da cidade de Pelotas, deram o nome de Dr. Antônio Augusto de Assumpção Jr à avenida que margeia a praia.

Num trecho do seu discurso, o orador oficial, o advogado Dr. Alcides de Mendonça Lima, falou que “parafraseando um orador gaúcho,se pode dizer do ilustre extinto que ele foi nobre pelo sangue, pelo caráter e pelo coração. E seus atributos pessoais o tornaram um dos pelotenses que mais honraram a terra natal,sempre voltado a seu progresso e a seus triunfos.”

Pelo Laranjal Praia Clube, coube a palavra ao professor Rafael Alves Caldelas:
“Aqui, ouvindo o marulhar das águas da Lagoa que ele amou, pisando as areias da praia que eram o seu encanto, o que pretendemos frisar é que, ao prestarmos a homenagem que hoje se concretiza na inauguração desta placa, que no bronze vai perpetuar seu nome, ligada a esta Avenida, estamos homenageando com justiça aquele que foi a mola mestra, que transformou banhados e matos no florescente Balneário que hoje é esta realidade tangível que contemplamos.”

Em nome da família do homenageado, falou o Sr. Lindolfo Wrege, agradecendo a homenagem.

Relembrar fatos é resgatar a história.De uma conversa entre amigos, numa noite enluarada, surgiu a idéia desta crônica. Sob o céu estrelado, a procura do Cruzeiro do Sul e das Três Marias conduziu à infância e a outras reminiscências. Lembranças acudiram, enquanto a cuia do mate amargo passava de mão em mão.

Alguém lembrou a brincadeira de mocinho e bandido, cavalgando em disparada no meio do mato nativo, abrigando-se nas cabanas de madeira, às margens da Lagoa dos Patos. Atiçadas as recordações, nessa reunião de amigos em que a lua cheia inspirou devaneios, surgiram outros relatos.

Essas são histórias para lembrar e contar; outras há, precisando ser resgatadas. Já contei a minha; quem quiser, conte outra.

2 comentários:

Anônimo disse...

Para escrever-se sobre um assunto que for deve-se primeiro conhecer a história e não arriscar-se a escrever qualquer coisa. O seu artigo sobre a fundação do Laranjal está muito errado, contradizendo inclusive historiadores renomados de Pelotas.
Não passe aos outros aquilo que você desconhece ou não conhece direito. Para escrever-se bem deve-se saber sobre história, se não corre-se o risco de repassar aos todo o tipo de informação no mínimo equivocada.

Marta disse...

Prezado Anônimo, lamentavelmente você esqueceu de deixar o seu nome, o que tornaria o seu comentário mais interessante.

Se este artigo contraria livros de história, você deverá citá-los, para que sejam contestados com documentos.

Tudo o que aqui relatei pode ser comprovado por documentos, jornais da época e fotografias.

Cordialmente,

Marta Fernandes de Sousa Costa