Em crônica anterior, escrevi sobre os projetos que fazemos, a cada ano, os sonhos que nos permitimos sonhar. Quanto aos últimos, nada a dizer, pois sonhos são feitos de nuvens; se nunca se concretizarem, já cumpriram seu destino: transportar-nos para além do cotidiano, nas asas da fantasia.
Projetos, porém, são coisa séria, implicam em planejamento e estratégias. Pena que muitos sejam esquecidos, mal as folhinhas do calendário comecem a ser viradas. Por isso é bom estabelecer metas objetivas, de preferência escrevê-las, para que, colocadas em lugar acessível, fiquem incomodando até serem solucionadas.
Cada um de nós vive numa cidade, bairro, rua, grupo empresarial ou familiar com problemas que procuramos não ver, para não nos aborrecer. Até o dia em que algo nos atinge fundo. Podem ser catástrofes naturais, tragédias provocadas por mãos criminosas ou ocorrências corriqueiras que acusem o nosso descaso e mostrem que, se tivéssemos tomado alguma atitude antes, o mal maior teria sido evitado. Podem ser histórias pessoais, não menos dolorosas, como as brechas que se abrem nos relacionamentos e vão crescendo, crescendo, até o ponto de as pessoas não se reconhecerem mais. Como se estivessem em margens opostas, à beira do precipício. Ainda que as mãos se estendam, já não conseguem se alcançar.
As coisas postergadas podem ser banais, mas com grande poder de aborrecimento, como a tomada da luz que só acende quando quer, a torneira que continua pingando, depois que o encanador se foi. Ou perigosas, como a tela de proteção na janela do apartamento ou em volta da piscina.
Depois que algo ruim acontece, todos sabem o que deveria ter sido feito. A verdade é que, por comodismo, deixamos acontecer muitas coisas que poderiam ser evitadas. Como cidadãos, o passado não nos ensinou a participação na vida política, nem a liderança, porque não nos habituou a exigir os nossos direitos, nem ocupar o nosso espaço. Também não há escola para formação de bons pais, maridos, esposas, amantes, companheiros. Aprendemos tudo na marra, entre erros e acertos, por isso é tão gratificante, quando se acerta algum ponto. E tão doloroso, quando tudo sai errado, apesar das boas intenções.
Mas, vez por outra, paramos para pensar na nossa vida e nas coisas que gostaríamos fossem diferentes. Só que a fada madrinha ficou perdida entre as páginas dos livros infantis. Agora, quando estamos descontentes com algo, precisamos nos responsabilizar pelas mudanças desejadas.
Costumamos acalmar os nossos anseios com promessas de “Vou deixar pra mais tarde”, “Tem muito tempo”, quando não desistimos de vez, pondo a culpa nos outros. De repente, o tempo passou, as coisas desejadas perderam a razão de ser, perdeu-se o prazer que poderiam ter proporcionado. Como o automóvel com que alguém sonhou, para levar a família a passear. Chegou tão tarde, que os filhos adolescentes já tinham melhor programa que passear com os pais. Ou como a piscina também construída depois que a infância se foi, aquela que permanece deserta, despovoada da algazarra infantil.
Então, daqui pra frente, ainda que sonhos sejam bons e preencham as horas ociosas, vamos parar de sonhar tanto e partir para a realização dos nossos projetos. Melhor ainda: armados de coragem e esperança, tentemos transformar em projetos realizáveis os nossos sonhos mais fantásticos.
Um comentário:
Marta!
Sonhar é bom, mas poder realizá-los é melhor ainda!
Ter um projeto torna a vida mais
desejada, por pequeno que seja...
Não com estresse, mas devagar aproveitando cada etapa.
Sonhos são preciosos - jamais abandoná-los, mesmo que demorem, sempre valerá à pena!
Beijos
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