25 de jan. de 2007

Um pouco da Ásia - parte XII - Kuala Lumpur



Após mais um dia de navegação, o navio aporta em Malacca, na Malásia, às sete da manhã. A parada será breve, só para o desembarque de alguns passageiros que contrataram excursões a partir deste porto.

À tarde, o navio chega a Port Klang, porto oficial de Kuala Lumpur, muito movimentado.Localizado próximo de Shah Alam, capital do estado de Selangor, onde reside o sultão, Port Klang é muito freqüentado, pela excelência dos seus restaurantes. O desembarque é às catorze horas e a saída está programada para as vinte uma e trinta.

O centro comercial de Port Klang fica a vinte minutos de onde o navio atracou, mas nosso destino é Kuala Lumpur _ ou KL, como é popularmente conhecida _ capital da Malásia. Ela pertencia ao pacote das excursões opcionais, propostas pela companhia turística, que preferimos não adquirir, receosos dos esquemas comuns a algumas excursões, onde se paga muito, se corre outro tanto e se aproveita pouco. Havíamos decidido ficar por nossa conta, mas a cidade exige a aceitação de uma excursão, em virtude da distância entre Port Klang até a mesma, percorrida em cerca de uma hora e trinta minutos. Além disso, não há táxis no porto, apenas os ônibus das excursões.
Assim, resolvemos adquirir a excursão no próprio navio.

A estrada é asfaltada, em duas vias, com três pistas de cada lado. O movimento é intenso; o deslocamento, rápido; o trânsito, congestionado.

Há uma interessante diversidade de raças em convivência harmônica. A Malásia é verdadeiro caldeirão cultural, mesclando a herança dos povos aborígenes com o legado dos estrangeiros chineses, indianos, árabes, portugueses, holandeses e ingleses.
Passamos por mulheres muçulmanas, com véus brancos cobrindo as cabeças, guiando potentes carros modernos; também por mulheres chinesas, com o vestuário numa mistura de oriental e ocidental.

A breve parada para fotos _ prometida no folheto de propaganda da excursão _ na Mesquita do Sultão Salahuddin Abdul Aziz Shah, também conhecida como Mesquita Azul, devido à coloração das abóbadas dos seus quatro minaretes, afinal foi substituída pela sua visão ao longe, apontada pelo braço do guia turístico contratado pelo navio. Com capacidade para dez mil pessoas, é uma das maiores mesquitas da Ásia.
Desapontados, ficamos a imaginar se, no outro ônibus, que levava a maioria dos nossos companheiros brasileiros, com a excursão adquirida no Brasil, o pessoal terá tido mais sorte. Depois, saberemos que a situação foi similar: mais uma vez, os turistas foram frustrados em suas expectativas.

Na verdade, a escala do navio em Kuala Lumpur é muito rápida, ainda piorada pela longa distância do porto à cidade. Só seria interessante se o navio aportasse à noite e os passageiros tivessem todo o dia seguinte para conhecerem a cidade. Em todo o caso, a excursão recém começou, pode melhorar. Espero que melhore.
A razão do desapontamento é a expectativa criada em torno de Kuala Lumpur, um lugar tão fora dos padrões ocidentais.

Logo o ônibus efetua uma parada no Thean Hou Buddhist Temple, considerado um dos maiores templos chineses do sul da Ásia, com a usual tirada de sapatos e a entrada no interior do templo com todos descalços.

Na continuação do caminho para a cidade, observamos os mangues. Também há centenas de coqueiros e o guia informa que o óleo dos coquinhos é extraído e exportado para produzir cosméticos e sabonetes. Penso se os coqueiros serão semelhantes aos do Brasil, pois a aparência é a mesma.

O guia segue contando que os primitivos habitantes da Malásia eram hábeis no cultivo do arroz, em pequenos terraços ainda hoje usados; confeccionavam redes de bambu e catamarãs rústicos para a pesca; eram caçadores de cabeças, prática reprimida pelos colonizadores ingleses.

Ao longo do caminho, vemos as plantações de arroz, pequenos quadrados separados por canais. O método de irrigação é muito primitivo, para os padrões ocidentais: sentado numa cadeirinha colocada sobre estacas, embaixo de uma cobertura de palha, extremamente rústica, o agricultor pedala, acionando uma bomba para irrigar o seu quadro.

Embora seja um ótimo exercício, parece-me haver maneiras mais eficientes de desempenhar este trabalho. No Brasil, bombas motorizadas são usadas para tal finalidade, liberando o homem para tarefas mais de acordo com o seu intelecto e a sua capacidade.

Enquanto o ônibus turístico se desloca, o guia fornece mais informações interessantes.

Em 1963, a Malásia se tornou país independente, embora a história das regiões que o formam remonte a quase dois milênios antes da era cristã.

A língua oficial é a malaia,mas também são faladas a chinesa, a inglesa e a indiana. A religião oficial é o islamismo.

O esplendor de Kuala Lumpur se opõe às majestosas selvas de Bornéu. Tendo começado como humilde acampamento de mineiros de estanho,mineral que a região possui em fartura, hoje Kuala Lumpur mistura a arquitetura mourisca com modernos arranha-céus, em fascinante simbiose de velho e novo. Intercalam-se mosteiros com elaborados templos chineses e hindus, arrojados estacionamentos situam-se entre restaurantes indianos e de outras nacionalidades.

Há várias histórias sobre a origem de Kuala Lumpur e a razão de sua denominação. A melhor é a mais simples: os mineiros e comerciantes que primeiro vieram em busca de estanho subiram o rio até onde o Klang e o Gombak convergem. O estuário Gombak foi o ponto mais alto onde os mineiros conseguiram chegar. Após um mês, 70 dos 87 pioneiros haviam morrido. Os sobreviventes, contudo, perseveraram, construindo abrigos e postos de comércio. Eles chamaram o acampamento de Kuala Lumpur, que significa “Estuário Lamacento”.

A próxima parada do ônibus em que estamos é na Menara Kuala Lumpur ou KL Tower, construção inaugurada em 1996. Situada no topo do Bukit Nanas, a torre de concreto de 421 metros de altura, construída para incrementar a qualidade das telecomunicações, é a mais alta da Ásia e a quarta mais alta do mundo. “Venha e toque o céu”, é o seu convite. No observatório, os visitantes obtém uma deslumbrante vista de toda a cidade e da Bukit Nanas Forest Reserve, área de 9,37 hectares, localizada no coração da cidade e preservada para conservação do meio ambiente.

Depois, seguimos para o Suria KLCC Shopping Center, localizado entre os dois edifícios considerados os mais altos do mundo, até o ano de 2004: Petronas Twin Towers. Concluídos em 1998, têm 88 andares e 452 metros de altura. Em 1999, ali foram filmadas algumas cenas do filme Armadilha, com Sean Connery e Catherina Zeta-Jones. A partir de 2004, passaram a ocupar o segundo lugar em altura.

Devido ao trânsito congestionado e às poucas paradas, o tempo correu e já são dezoito horas. Então, o guia comunica que teremos meia hora para conhecer o shopping center e fazer compras, pois logo nos reuniremos em determinado local, para o retorno ao porto. É importante observar o horário, visto que não serão permitidos atrasos: quem não estiver no lugar combinado, na hora marcada, será deixado para trás e precisará pegar um táxi. Caso não consiga chegar ao navio até o momento estabelecido para a partida, será também abandonado e deverá se conduzir ao aeroporto e tomar o primeiro avião para Cingapura.

O guia turístico falou com a maior naturalidade, como se todos devêssemos encarar como normal a possibilidade de alguém ser esquecido num porto de língua desconhecida, em plena Malásia, sem passaporte em mãos e com pouco dinheiro, visto que esse ficou guardado no cofre. Apesar de que isso deve ser puro terrorismo, pois o navio se responsabiliza pelas pessoas em terra, pelo fato de estar com os passaportes.

Por via das dúvidas, a nossa primeira atitude é gravar bem o local do encontro, por serem muito parecidas todas as entradas. Depois, tratamos de procurar um lugar para comer alguma coisa, já que estamos com fome e não haverá tempo para o serviço de restaurante. Alimentados, caminhamos um pouco, observando as vitrines repletas de artigos tentadores, sem a menor possibilidade de entrar em alguma loja e efetuar qualquer compra, pela exigüidade do tempo. Em suma, o típico programa “furado”. Novamente para ter a sensação de que muito haveria para ver, se outra fosse a organização.

Exatamente no horário acertado, cá estamos nós e todos os companheiros do nosso grupo. Enquanto nos reunimos, surge outro brasileiro, apressado, perguntando se sabemos onde é o ponto de encontro do seu grupo, pois se perdeu. Alguém sabe e informa, ele sai correndo, para não se dispersar da turma.

O trânsito do entardecer é congestionado, o motorista do nosso ônibus fez uma entrada errada e agora não consegue chegar onde estamos. Comunica-se pelo celular, mas relata que está cada vez mais longe e enredado. Aguardamos, entre pacientes e divertidos:

_ Então, o ônibus pode se atrasar?

Surgem brincadeiras:

_Será que o navio vai partir e nos deixar?

Após duas horas de espera, o motorista avisa que nos espera do outro lado da avenida, basta atravessarmos. Basta? Bem, isso não é tão fácil,sem sinaleira, mesmo com faixa de segurança e sendo trinta pessoas, considerando que o fluxo de veículos é intenso e nervoso. Mas conseguimos, embarcamos e retornamos ao navio.

Enquanto isso, no outro ônibus, onde a maioria dos brasileiros nossos companheiros estava, três turistas se atrasaram (seriam os mesmos de Cingapura?). O guia, em obediência às regras de não esperar por ninguém _ só pelo ônibus _ ordenou ao motorista que partisse. Encontrando-se, os três contrataram um táxi e se dirigiram para o porto. Chegaram a tempo, para essa história ser só engraçada.

Mas Kuala Lumpur merece uma visita calma, para conhecer tudo o que só vislumbrei. E me agradaria imenso voltar lá em um dia qualquer. Com passagem aérea, de preferência, para não ficar limitada aos horários do navio.

Embora seja fã de carteirinha de cruzeiros marítimos, tenho que concordar que para alguns roteiros não é o mais adequado. Em certos casos, o interesse maior é permanecer no interior do navio, em alto-mar, onde a programação costuma ser intensa e divertida (exceto neste). Quando se deseja conhecer realmente os lugares visitados, é bom observar o horário de chegada e saída do navio, para saber da conveniência.

Um comentário:

Anônimo disse...

Marta!

Tua crônica mostra muito claramente a diversidade de povos e costumes, dando-nos uma idéia nítida do imenso mundo em que vivemos. Que maravilha poder ver tudo isso "in loco"!Fico feliz que tenhas podido sentir, de perto,estas complexidades e, espero , um dia, quem sabe, me felicitar também!

Beijos e apertões