21 de jul. de 2007

Cada um em seu posto

Parece, às vezes, que a luta é inglória. Reagir é dar murro em paredes de cimento e isso só fere as mãos, todos sabemos. Reagir pode desencadear reações violentas, ocasionar mal-estar e castigos, como ocorria na infância, quando alguns batiam portas, em protesto, e logo eram conduzidos ao cantinho, para pensarem melhor. Reagir é perigoso, fomos levados a concluir, e por isso nos encolhemos, covardes e omissos.

São tantos os escândalos e desmandos noticiados pelos jornais, fora aqueles que nem chegam ao nosso conhecimento, abafados pelo corporativismo ou pelo medo de expor as próprias culpas. Senadores confessam terem todos “o rabo preso” e a declaração nos deixa perplexos. A violência explode, ônibus são metralhados, inocentes exterminados por motivos absurdos, bebês e crianças arrastados na onda de ódio que domina o Brasil. Prostitutas, índios, negros e homossexuais podem ter encontro marcado com a tragédia, numa saída à rua. Empregadas domésticas, agora se sabe, também precisam tomar cuidado. Vale muito pouco a vida alheia.

Na verdade, vivemos todos cheios de cuidados, sem saber o que há atrás de cada esquina. Há perigo em usar o celular, calçar o tênis Nike, vestir a jaqueta Mormaii. Perigo em sair à rua, estacionar o automóvel, esperar no semáforo, abrir o portão da garagem.

A vontade é ficar quieto, ignorar, mudar de país, pra fingir que nada disso é conosco. Só que não dá mais para fugir, nem pra ignorar. A hora é de assumir, enfrentar, encarar. Quando recuamos, avançam os que nos são contrários, cheios de razão, porque quem não defende suas crenças não merece preservá-las.

Chega de ficarmos inertes, acompanhando a sucessão de escândalos. E não venham pôr a culpa na miséria, acusar as desigualdades sociais, porque, se as causas fossem apenas essas, não haveria criminosos e trambiqueiros nos altos escalões governamentais, nem nas altas rodas sociais.

E se fossemos contar, uma por uma, as pessoas idôneas, corretas, preocupadas com o próximo, e em outra lista colocássemos os corruptos, maledicentes, violentos, criminosos, teríamos a surpresa de descobrir que é bem maior o número dos primeiros. Só que agem sem alarde, não ocupam manchetes dos jornais, pois a seriedade e os bons propósitos não costumam despertar tanto interesse como a descoberta de falcatruas, a violência explícita, a sem-vergonhice escancarada.

Nesse caso, precisamos nos unir e cerrar fileiras na defesa dos nossos princípios. Precisamos aprender a reivindicar, externar o nosso desconforto, exigir que nos ouçam, fazer coro com os que dizem o que não tivemos coragem de falar. Cada um em seu posto _ nas casas, escritórios, oficinas e universidades _ estejamos todos em estado de alerta, prontos a defender tudo em que acreditamos. E se somos tantos os descontentes, cansados de engolir sapos e iniqüidades, empurrados goela abaixo, como coisa normal, então a reação não é tolice, nem a luta é inglória.

2 comentários:

Anônimo disse...

Marta, querida!

Sei exatamente como se sente. Estou enojado até de amigos que agora são politicos, (antes não eram)pela deturpação que o sistema lhes impôs. Não suporto mais vê-los pura e simplesmente agora envoltos no jogo do poder apenas pelo poder. Ideais e idéias, foram todos ladeira abaixo. O sistema é corrupto e corrompe quem nele adentra.
Mas claro que não estamos parados, não mesmo. Claro que não podemos consertar o todo. Mas podemos dizer que não passamos em brancas e pálidas núvens, nós nos indignamos e externamos isso.
E vamos fazendo nossa parte para melhorar, um tiquinho que seja, isso tudo. Somos gente do livro e isso por sí, já conta pontos.
Continue a indignar-se mas continue também a deixar suas belas Letras para os olhos que mereçam conhecê-las.
Eu, cá do meu canto, vou fazendo também.
Abraços!

Sérgio

Anônimo disse...

Marta!
Não sei precisar quantos tranquilizantes tomei, nem quantos discursos fiz nestes dias tenebrosos, de tamanhas mentiras,escusas desculpas não sentidas! Acredito, sinceramente, de que, se cada um der um pouco de si, ganharemos dias melhores, ao menos tenho rezado muito também!
Ruthe