13 de out. de 2007

As escolhas de cada dia

Para algumas pessoas, dizer “não” é muito difícil. Por essa razão, vivem estressadas, tentando fazer mais do que realmente podem. Desdobram-se em atenções, sem obter retorno; vivem além das suas posses, para corresponder às expectativas alheias. Mostrar-se bonzinho, condescendente além da conta, muitas vezes, é a forma inconsciente de pedir aprovação e angariar simpatia.

Para outras pessoas, ao contrário, difícil é dizer “sim”. A negativa está sempre na ponta da língua. À menor solicitação, a reação é pronta: não podem ajudar, não vão, não contem com eles pra nada. Estão sempre muito ocupados, têm coisas mais importantes para fazer. São os eternos ranzinzas, desmancha-prazeres, os não-colaboradores, não-participativos. Sentem-se importantes, a cada vez que se negam, criando dificuldades para os outros. Negar é sua forma de mostrar poder.

Entre o sim e o não, balança a nossa segurança. Em cada situação, precisamos estudar os prós e os contra, os vários fatores, os relacionamentos envolvidos. O que ontem valeu, talvez hoje seja impróprio, demasiado ou desnecessário. Amanhã, poderá ser válido novamente.

Por isso, é difícil julgar fatos passados, sem colocar na balança todos os dados conhecidos. Também é improdutivo carregar culpas por momentos em que dissemos “sim” ou “não” da forma que hoje não faríamos. Naquele momento, naquelas circunstâncias, fizemos o que nos pareceu melhor.

Também não precisamos seguir pela vida repetindo “não”, quando bem apetecia concordar e usufruir, ou indefinidamente continuar concordando com coisas que passaram a nos aborrecer.

“Sim” ou “não” são escolhas de cada dia. Sejam feitas pela vontade pessoal, pelo desejo de agradar aos outros ou pelo medo de desagradar, somos sempre os responsáveis. Se as conseqüências forem más, não adianta culpar as pressões externas, a cara feia do marido ou o desaforo do filho, quando contrariados. Se, por não saber dizer “não”, assumimos mais responsabilidades do que nos era possível aceitar, azar o nosso. Se acabamos cedendo, para fugir à discussão, e as conseqüências foram péssimas, a omissão pode custar um preço que não queríamos pagar.

Cada decisão é uma estrada em que a gente segue sozinho. Por isso todas exigem bom-senso e muita sorte, pois nunca se conhece todas as variáveis e o perigo pode estar justamente no dado desconhecido. Aquele que nos faz dizer, depois do caso passado: “Se soubesse, teria agido diferente”.

Pode-se mudar o roteiro, passar a agir de outro jeito, mas não se consegue anular o que foi dito e feito. Com esforço, até se consegue entender e deixar de culpar ou sentir culpa, só não se consegue passar a borracha por inteiro. Por isso as escolhas são importantes: quando erradas, transformam-se em pesados fardos; adequadas, mal nos dão tempo para usufruí-las e já se desdobram em outras, exigindo mais decisões.

Um comentário:

Anônimo disse...

Marta!

Palavras difíceis o "sim" e o "não", principalmente quando não nos dão tempo para pensar.
Já passei por vários arrependimentos, mas o que foi dito, está feito.Explicações e desculpas, tarde demais. Maravilhoso quando nos entendem e nos desculpam!

Beijos da Ruthe