Pensei que fosse brincadeira, quando pela primeira vez ouvi falar sobre o “Maior arroz-de-leite do mundo”, que o pessoal do Sindicato Rural de Pedro Osório e Cerrito pretendia apresentar, durante a 34 Expofeira. Principalmente porque o objetivo era trazer a auditoria do RankBrasil, para que o sucesso obtido pela união dos dois municípios pudesse constar no Livro de Recordes Brasileiros - o que, mais que glorioso, pareceu assustador.
Dias antes, olhei o tamanho da panela emprestada pelo Instituto Riograndense do Arroz (IRGA), com impressionantes cinco metros de diâmetro - e a incredulidade aumentou. Além disso, por constar de duas metades, a panela exigiu adaptações e lá estava a turma convocada, martelando e aparafusando, a fim de garantir que o leite não vazasse.
Ao redor da panela, havia um ar de alegre expectativa. Celulares tocavam sem par, alguns firmando parcerias, outros criando dificuldades. A cada dúvida externada, alguém tinha a resposta confiante. A cada um que “roía a corda”, outro se apresentava, disposto a ajudar. A confecção do arroz-de-leite conseguiu uma mobilização inédita entre os dois municípios, separados pelas águas do rio Piratini, unidos por uma história de resistência às enchentes e ao abandono costumeiro às cidades do interior.
Encantada com a autoconfiança de quem se julgava capaz de realizar tal proeza, cumprimentei o responsável pela confecção do arroz-de-leite gigantesco.
_ Parabéns pela sua coragem – falei.
_ Não foi coragem, foi boca grande mesmo _ respondeu, bem-humorado, logo explicando que a idéia fora desencadeada pela sua observação de que já fizera a sobremesa para duzentas pessoas. Como os ouvintes se admirassem, ele completara, sem imaginar as conseqüências: _ Nunca fiz, mas faria com mil litros de leite, sem medo de errar.
Jamais pensara que, entre os companheiros, um logo tomasse a dianteira: _ E farias um arroz-de-leite desses, como atrativo para a Expofeira?
_ Aí não pude recuar. Só que o tamanho aumentou e agora já é quase o dobro. _ completou, entre risonho e assustado, na véspera do grande feito.
Enfim, chegou a manhã programada para enfrentar o desafio, sob o olhar atento da auditora da Revista RankBrasil. Metros de lenha já esperavam, sob a gigantesca panela, que recebeu 1.250 litros de leite, depois 160 quilos de arroz, mais tarde 504 quilos de leite condensado e nove litros de baunilha. Vários voluntários se revezaram para mexer a mistura, posicionados sobre a plataforma ao redor da panela, enfrentando o calor forte ao ponto de derreter a borracha dos tênis.
Ao meio-dia, estava pronto o maior arroz-de-leite do mundo. Paulo Zanetti, o responsável pela obra, alçado à posição de chef nacional, foi o primeiro a provar. Surpreso e feliz, aprovou o resultado.
Centenas de pessoas formaram fila e saborearam a especiaria, servida gratuitamente; os mais prevenidos levaram para cá, em baldes plásticos; fartas porções foram enviadas para as entidades assistenciais. Ao final da noite, as quase duas toneladas de arroz-de-leite haviam sido distribuídas, sem um queimado sequer.
Pedro Osório é grande produtora de arroz, Cerrito é grande produtora de leite. Juntos, os dois municípios entraram para o Livro dos Recordes. Graças à coragem, dinamismo, solidariedade e garra de gente que fala e faz.
2 comentários:
Marta!
Que maravilha poder constatar que ainda existe gente solidária, de fibra, destemida bem pertinho de nós! Pode ser que esta "epidemia" pegue, vamos rezar com bastante devoção!
Beijos
Marta, e fotos?
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