28 de nov. de 2007

Boca grande




Pensei que fosse brincadeira, quando pela primeira vez ouvi falar sobre o “Maior arroz-de-leite do mundo”, que o pessoal do Sindicato Rural de Pedro Osório e Cerrito pretendia apresentar, durante a 34 Expofeira. Principalmente porque o objetivo era trazer a auditoria do RankBrasil, para que o sucesso obtido pela união dos dois municípios pudesse constar no Livro de Recordes Brasileiros - o que, mais que glorioso, pareceu assustador.

Dias antes, olhei o tamanho da panela emprestada pelo Instituto Riograndense do Arroz (IRGA), com impressionantes cinco metros de diâmetro - e a incredulidade aumentou. Além disso, por constar de duas metades, a panela exigiu adaptações e lá estava a turma convocada, martelando e aparafusando, a fim de garantir que o leite não vazasse.

Ao redor da panela, havia um ar de alegre expectativa. Celulares tocavam sem par, alguns firmando parcerias, outros criando dificuldades. A cada dúvida externada, alguém tinha a resposta confiante. A cada um que “roía a corda”, outro se apresentava, disposto a ajudar. A confecção do arroz-de-leite conseguiu uma mobilização inédita entre os dois municípios, separados pelas águas do rio Piratini, unidos por uma história de resistência às enchentes e ao abandono costumeiro às cidades do interior.


Encantada com a autoconfiança de quem se julgava capaz de realizar tal proeza, cumprimentei o responsável pela confecção do arroz-de-leite gigantesco.

_ Parabéns pela sua coragem – falei.

_ Não foi coragem, foi boca grande mesmo _ respondeu, bem-humorado, logo explicando que a idéia fora desencadeada pela sua observação de que já fizera a sobremesa para duzentas pessoas. Como os ouvintes se admirassem, ele completara, sem imaginar as conseqüências: _ Nunca fiz, mas faria com mil litros de leite, sem medo de errar.

Jamais pensara que, entre os companheiros, um logo tomasse a dianteira: _ E farias um arroz-de-leite desses, como atrativo para a Expofeira?

_ Aí não pude recuar. Só que o tamanho aumentou e agora já é quase o dobro. _ completou, entre risonho e assustado, na véspera do grande feito.

Enfim, chegou a manhã programada para enfrentar o desafio, sob o olhar atento da auditora da Revista RankBrasil. Metros de lenha já esperavam, sob a gigantesca panela, que recebeu 1.250 litros de leite, depois 160 quilos de arroz, mais tarde 504 quilos de leite condensado e nove litros de baunilha. Vários voluntários se revezaram para mexer a mistura, posicionados sobre a plataforma ao redor da panela, enfrentando o calor forte ao ponto de derreter a borracha dos tênis.

Ao meio-dia, estava pronto o maior arroz-de-leite do mundo. Paulo Zanetti, o responsável pela obra, alçado à posição de chef nacional, foi o primeiro a provar. Surpreso e feliz, aprovou o resultado.

Centenas de pessoas formaram fila e saborearam a especiaria, servida gratuitamente; os mais prevenidos levaram para cá, em baldes plásticos; fartas porções foram enviadas para as entidades assistenciais. Ao final da noite, as quase duas toneladas de arroz-de-leite haviam sido distribuídas, sem um queimado sequer.

Pedro Osório é grande produtora de arroz, Cerrito é grande produtora de leite. Juntos, os dois municípios entraram para o Livro dos Recordes. Graças à coragem, dinamismo, solidariedade e garra de gente que fala e faz.

2 comentários:

Anônimo disse...

Marta!

Que maravilha poder constatar que ainda existe gente solidária, de fibra, destemida bem pertinho de nós! Pode ser que esta "epidemia" pegue, vamos rezar com bastante devoção!

Beijos

Anônimo disse...

Marta, e fotos?