No Pará, uma menina de 15 anos, com 35 quilos, presa sob acusação de tentativa de furto de um celular, foi colocada numa cela com cerca de 20 homens, onde foi violentada e torturada por 26 dias. O caso foi exaustivamente noticiado e comentado; daqui a pouco, cairá no esquecimento.
Sendo menor, ela não poderia ter sido colocada numa prisão comum; sendo mulher, não poderia estar numa prisão masculina; sendo ser humano, recebeu tratamento que, concedido a animais, os responsáveis seriam sumariamente condenados. Há quem proteja os animais.
Como coação para que concedesse os “favores sexuais”, a jovem foi privada de comida, espancada, queimada com cigarros em partes do corpo e com isqueiro nas solas dos pés.
Segundo informações dos detentos, um promotor e uma promotora foram informados da presença da jovem na prisão masculina, sem que tomassem qualquer providência. Após dez dias dessa situação, na audiência coletiva a que vários presos compareceram, menos a menina, alguns também falaram à juíza da comarca da sua presença na cela, sem que mais uma vez nada fosse feito.
Interrogada pela mídia, a delegada de polícia responsável pela prisão da jovem admitiu que sabia da ilegalidade de manter uma mulher com homens, mas culpou a precariedade da delegacia. Abandonada à própria sorte, a menina não contou sequer com a solidariedade feminina.
Por sua vez, o delegado-geral da polícia do Estado do Pará, em audiência no Senado, insinuou que a culpada fosse a jovem, que deveria ter alguma “debilidade mental”, por não ter dito que era menor, nem denunciado os abusos – como se a averiguação e a forma de prisão não fossem responsabilidade do Estado. Depois disso, o delegado-geral pediu exoneração, que foi aceita, recebendo contudo os agradecimentos da governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, ”pelos serviços prestados com ética e dedicação”.
No mesmo espírito, a governadora do Pará jogou a culpa de tudo para os governos anteriores, por estar há pouco tempo no poder, além de alegar problemas “culturais e estruturais”. Assim, cada um à sua maneira, todos lavaram as mãos. Esse é o mundo civilizado.
Mas o pior é que esse crime, que escancarou a vergonhosa realidade dos presídios brasileiros, não é o primeiro nem será o último, se não houver mudança de mentalidade.
Quando as autoridades e a sociedade fecham os olhos ao que acontece atrás das grades, atos criminosos passam a ser encarados com naturalidade. A menina L. foi vítima de uma sociedade omissa, que prefere se declarar escandalizada a se reconhecer culpada. Mas,fosse ela um menino, uma mulher ou um homem adulto, o crime seria igualmente bárbaro, porque nenhum ser humano deveria sofrer abusos ou tortura, quando colocado sob a responsabilidade do Estado.
Por essa conivência em acreditar que prisioneiros podem viver em condições sub-humanas, a menina foi ignorada pelas autoridades que deveriam protegê-la. Por isso, foi julgada e condenada, sem direito à defesa, como é provável aconteça a muitos outros, por esse Brasil afora.
4 comentários:
Só tenho a dizer como o Boris - " Isto é uma vergonha". Mas, não chega isto, também sinto vergonha de ser brasileira nestas horas.Beijos,Suely
Marta!
Meus ouvidos não querem acreditar no que estão ouvindo, quando chega até eles, este tipo de notícia.
Estamos retrocedendo vergonhosamente, nos tornando barbéries e ninguém faz nada - é um verdadeiro marasmo...
Acabamos chorando, rezando e implorando que aconteça algo de bom, para mudar estas situações deploráveis.
Beijos
Marta!
O comentário acima é meu.
Ruthe
Oi Marta,estava dando uma olhada no Diário Popular, e li teu artigo sobre a menina presa com 20 homens.
É um absurdo,uma falta de humanismo da lei,fiquei perplexa quando fiquei sabendo do caso,eu faço serviço social,por isso me interessei mais ainda pela noticia.
Mas tenho certeza que além deste existem varios outros.
Adorei teu artigo um abraço deiseeg@hotmail.com
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