29 de nov. de 2008

Antônio José Gonçalves Chaves - pesquisa

Antônio José Gonçalves Chaves
Patrono da cadeira 16 da Academia Pelotense de Letras

Filho de Manuel José de Moraes e de Izabel Maria Gonçalves, Antônio José nasceu em São Tiago d’Ouro, comarca de Chaves, Portugal. Há dúvidas sobre o ano de seu nascimento, em muitos livros considerado 1781.
Na época, era comum que a repetida referência ao lugar de origem terminasse incorporada ao nome, por isso, após chegar ao Brasil colonial, em 1805, através do porto de Rio Grande, aqui se tornou conhecido como Antônio José Gonçalves Chaves, nome que passou aos seus descendentes.
Logo Antônio José se estabeleceu na povoação das Pelotas, ainda distrito da Vila de Rio Grande, começando a vida como caixeiro. Depois, acompanhando o crescimento do surto do charque, tornou-se charqueador.
O charque era levado em embarcações menores ao porto de Rio Grande, de onde saía em grandes navios para o Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Havana, Europa e Estados Unidos. Para não voltarem vazios, os navios traziam mantimentos, móveis, louças, figurinos e até material de construção dos grandes centros.
Aproveitando-se dessa circunstância, em 1808, à margem direita do arroio Pelotas, Antônio José iniciou a construção da casa da Charqueada São João, com vitrais franceses e azulejos portugueses. Em 1810, a casa ficou pronta, em estilo colonial português, com traços do colonial espanhol em seu interior.
No ano seguinte, no Natal de 1811, no oratório da charqueada do pai da noiva, na Costa do arroio Pelotas, Antônio José casou com Maria do Carmo Secco, nascida no Povo Novo, filha de Maria do Carmo Soares, da Colônia do Sacramento, e do português Joaquim José da Cruz Secco, vizinho de Chaves e também fabricante de carne salgada.
Gonçalves Chaves destacou-se entre seus pares, pelo pioneirismo de suas idéias. Defendia o fim do regime escravista, não somente por razões humanitárias, mas como resultado de uma fria análise socioeconômica. Também pregava a necessidade de proibir a entrada de mais escravos no Brasil, sob a justificativa de que seria inviável tratar com dignidade a população cativa, se aumentado seu número, por já serem três milhões, representando 1/4 da população brasileira, em 1822.
Pelas mesmas razões, acreditava no liberalismo econômico; criticava as elites da terra e os representantes da coroa portuguesa. Também denunciou as injustiças sociais e o sistema de distribuição das grandes sesmarias, já naquele tempo propondo a extinção do favoritismo e do nepotismo.
Gonçalves Chaves falava francês e latim e possuía grande biblioteca. Em 1820, hospedou o naturalista francês Augusto Saint-Hilaire, a quem forneceu preciosos apontamentos referentes ao período 1805-1819, tendo aquele muito se admirado por encontrar tal cultura em lugar tão afastado da civilização, em sua concepção.
Em 1822, assinando-se como “hum portuguez residente no Brazil há dezesseis anos”, escreveu as cinco “Memórias Ecônomo-Políticas sobre a Administração Pública no Brasil”, excelente tratado sobre economia, publicado no período em que o país passava de reino unido para império. Inclusive, por algumas idéias dissonantes com o pensamento generalizado na época, encontrou certa dificuldade, a princípio, na publicação das Memórias. Não conseguindo publicá-las na Bahia, conseguiu, com atraso de um ano, que fossem publicadas no Rio de Janeiro.
Gonçalves Chaves teve forte atuação política: foi vereador na Vila do Rio Grande, como representante do distrito de Pelotas, até a instalação da Vila de São Francisco de Paula; participou, em 1828, do primeiro Conselho da Província; em 1832, foi eleito vereador, ao instalar-se a primeira Câmara Municipal de Pelotas, e em 1835, pouco antes de sua transferência para Montevideo, elegeu-se à Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Nessa época, a grande expansão das charqueadas fez com que Pelotas fosse considerada a verdadeira capital econômica e cultural da província. Havia charqueadas também no Canal São Gonçalo e no arroio Santa Bárbara, mas a maioria se localizava no arroio Pelotas. Não há registro do número exato de charqueadas, mas, no período anterior a 1835, seu número era calculado entre 18 e 40. Cada charqueada tinha em média 40 escravos.
De espírito nitidamente empreendedor, juntamente com Domingos José de Almeida e José Vieira Viana, Antônio José foi um dos três construtores da Barca Liberal, o primeiro barco a vapor construído no Brasil e o primeiro a sulcar as águas do estado riograndense, iniciando a exploração do transporte entre Pelotas e Rio Grande, em 1832. A Barca, com motor importado dos Estados Unidos da América do Norte, serviu primeiramente às forças dos farrapos, mas depois, requisitada pela marinha do Império, combateu contra os seus idealizadores.
Também junto com Domingos José de Almeida, em março de 1833, Gonçalves Chaves criou uma associação para proceder à desobstrução da foz do Canal São Gonçalo, com capital de 40 contos. Contratado um engenheiro norte-americano, foram feitos estudos, sondagens, levantamento de plantas, mas, por razões políticas e o início da revolução, a idéia só seria posta em prática 44 anos mais tarde, em 1875. Isso permitiu a exportação direta do charque para a Europa e os Estados Unidos, operação antes realizada através de Rio Grande ou São José do Norte.
Sendo grande amigo de Bento Gonçalves, Gonçalves Chaves sofreu perseguição por parte dos legalistas. Após o assassinato do preceptor de suas filhas, no pátio da Charqueada São João, preferiu retirar-se para o Uruguai. Lá estabeleceu charqueada na localidade de Cerro, no lugar conhecido como Punta Rodeo, na ponta onde termina a baía de Montevideo. Hoje, a localização da charqueada de Gonçalves Chaves seria a rua Turquia, entre as ruas Norteamérica e República Argentina.
Segundo o pesquisador Monquelat, de acordo com o documento de entrada no Uruguai, a transferência para Montevideo teria ocorrido em novembro de 1836. Mas diferentes historiadores escreveram sobre o fato, as diversas versões contribuindo para aumentar a confusão.
Da mesma forma, alguns se referem ao seu local de nascimento como Vila Verde do D’Ouro, em lugar de São Thiago d’Ouro, como outros relatam. Em algumas biografias, também consta que, além de charqueador, era estancieiro; segundo dados familiares, seus filhos Antônio José e João Maria é que mais tarde compraram uma estância.
Antônio José Gonçalves Chaves morreu em conseqüência de um naufrágio, em 29 de julho de 1837, nas imediações da ilha dos Ratos, no Uruguai, quando retornava para a sua charqueada e um violento temporal virou o pequeno barco em que navegava. Junto com ele, estava o amigo Felizardo Braga, que também morreu, e dois marinheiros, sendo que um deles se salvou.
Gonçalves Chaves foi enterrado aos 17 de agosto de 1837, no nicho 263 do Cementerio Público, hoje chamado de Cementerio Central. Segundo Fernando Osório, em seu livro A Cidade de Pelotas, mais tarde, seus restos foram transladados para Pelotas, mas há dúvidas sobre essa afirmativa, por não ser conhecido o lugar de seu túmulo.
Antonio José e Maria do Carmo tiveram 10 filhos:
Antônio José – casou com sua sobrinha Marcolina (Catita);
Marcolina – casou com Joaquim Antônio Barcellos;
Maria Isabel – casou com Manoel dos Santos Campelo
Luiza casou com Roberto Baker
Tito Chaves
Joaquim Antônio - casou com Magdalena de Carvalho
João Maria – casou com sua sobrinha Maria Luiza, filha de Marcolina;
Domingos Antônio;
Balbina –casou com Amaro José Ávila da Silveira;
José Maria – casou com Chiquinha
Os descendentes de Antônio José Gonçalves Chaves, casando-se com os filhos e proprietários das charqueadas vizinhas, como era comum à época, tanto pela facilidade da convivência como por conveniência econômica, deram origem a muitas famílias de Pelotas.
Pela figura extraordinária que foi, Gonçalves Chaves ainda desperta interesse de historiadores e pesquisadores, preocupados em melhor entender a sua personalidade e as possíveis contradições. Essas, inclusive, são inúmeras, a começar pela data do nascimento, em muitos livros aceita como 1781, hoje questionada se teria sido 1794, em virtude das declarações constantes no visto de entrada no Uruguai, em 1836: viúvo, comerciante, oriundo de Pelotas, 42 anos.
Ocorre que, se naquela ocasião ele já tivesse 42 anos, teria chegado ao Brasil com 11 anos. Como possuía educação esmerada, que, conforme alguns historiadores, dificilmente poderia ser adquirida na Pelotas de então, são válidas as dúvidas sobre a data do nascimento.
Além disso, no visto de entrada, consta que era viúvo, o que é contestado por alguns descendentes, por terem como certo que foi sua esposa quem lhe enviou a comunicação do assassinato do preceptor de suas filhas, recebida quando ele voltava de Porto Alegre, com sugestão de que não retornasse à charqueada, melhor se transferisse para o Uruguai.
Mas, diante dos seus feitos e realizações, esses questionamentos perdem importância,
Da mesma forma, alguns pesquisadores também contestam o fato de defender o fim da escravidão, sendo proprietário de escravos. Contudo, juízos são temerários, quando mudam os tempos e as circunstâncias.
A trajetória de Antônio José Gonçalves Chaves nos fala de empreendedorismo, participação política e coragem na defesa de suas idéias. Entre 1805 e 1837, junto com outros grandes vultos de Pelotas, preocupou-se com o desenvolvimento da cidade que ele, português de nascimento, assumiu como sua, com o seu exemplo ajudando a forjar a têmpera das muitas personalidades que o sucederam e ainda sucedem.
Seja essa a lição que a sua história nos deixa.

Bibliografia: Livro de anotações, pertencente a Elza Chaves de Sousa Costa, bisneta, por parte de João Maria
Escrevendo a história de nossos antepassados, de Antônia de Oliveira Sampaio
Arcaz de Lembranças, de Heloisa Assumpção Nascimento
Negros, Charqueadas e Olarias, de Ester Gutierrez
A Cidade de Pelotas, de Fernando Osório
Nossa cidade era assim, de Heloisa Assumpção Nascimento
PELOTAS: TODA A PROSA, de Mario Osorio Magalhães
Artigos do livreiro Monquelat, no Jornal Diário da Manhã

2 comentários:

Filipe Pinheiro de Campos disse...

Cara Marta

Tenho alguns dados deste brasileiro na sua origem em Oura, Chaves. Se me contactar agradeço

pinheirodecamposARROBAgmail.com

Tony Fontoura disse...

Olá. Como Gonçalves Chaves teria aprendido francês, de forma a falar fluentemente com Saint-Hilaire? A imigração francesa para pelotas só começaria depois de 1820! Será que havia algum francês antes, ou teria aprendido no Uruguai? O pai dele saberia francês?