14 de jun. de 2009

A lei de Murphy

Não chovia há três meses, quando decidi convidar alguns amigos para jantar, na semana seguinte. Na antevéspera do dia programado, começou a chover forte. Manifestou-se a goteira que já devia ter sido consertada e uma bacia precisou ser colocada, no meio da sala de estar. Pensei: ”É a lei de Murphy”.

Fui ao supermercado, fazendo contas sobre o tempo de que dispunha, concedendo a folga que pareceu razoável. Encontrei, na caixa, uma fila grande e parada ao ponto de me fazer desistir, preferindo me locomover até outro estabelecimento. Pensei: “É a lei de Murphy”.

A amiga contou que comprou um cachorrinho, que veio para seu convívio já bem adestrado, mas o filhote estranhou o novo ambiente, fez xixi onde não devia, ela não viu, escorregou no xixi e quebrou a perna. “Puxa, a lei de Murphy faz estragos” – pensei, pesarosa.

Na revista Super Interessante, edição 264, descobri que essa lei atrapalha a vida de todos há 60 anos. Surgiu na Força Aérea americana, por ocasião de um teste para medir a resistência do corpo humano à gravidade. No primeiro teste, o voluntário, um físico da aeronáutica, saiu muito ferido, com vários ossos quebrados. Os testes foram repetidos várias vezes, o voluntário sendo machucado em todas, pelo bem da ciência. Lá num belo dia, porém, o coordenador da experiência, Edward Murphy Jr, percebeu o engano: os sensores haviam sido ligados ao contrário e, em razão disso, não podiam funcionar. O sofrimento do voluntário e os meses de testes haviam sido em vão. Irritado, naquele momento Murphy decretou a lei universal do pessimismo.

Pelos anos seguintes, novos itens foram acrescentados ao “se alguma coisa pode dar errado, é certo que dará”: o pão sempre cai com o lado da manteiga para baixo; todas as outras filas andam mais rápidas que a nossa; um atalho é sempre a distância mais longa entre dois pontos; quando um trabalho é mal feito, qualquer iniciativa para melhorá-lo só piora _ e por aí segue, cada um aparentemente mais verdadeiro que o outro.

A lei de Murphy se baseia nas probabilidades, nas chances que costumamos dar ao azar. Quando alguma coisa dá certa, não lhe dedicamos um segundo pensamento. Se o azar se vinga da nossa imprevidência e cobra o seu preço, a culpa é da lei de Murphy.
A persiana de madeira emperrou, quando resolvi fechá-la. Talvez, sem conhecer o mecanismo, alguém forçou até conseguir erguê-la, sem perceber que estava trancada. Quando fui baixá-la, à noite, desceu contrariada, aos trancos, como quem não está a fim. Insisti e a persiana, mal humorada, caiu em cheio sobre a minha mão. Está certo, doeu; mas posso culpar a lei de Murphy?

Pessoas previdentes se programam, organizam, concedem-se o tempo necessário para cada atividade, em lugar de fazer tudo na última hora, correndo, que o prazo está quase a vencer. Assumem somente os compromissos que podem cumprir. Medem as conseqüências de seus atos, para não serem surpreendidos com contratempos desagradáveis. Quando desejam ser encontrados, lembram de carregar o celular; carregam a caneta na bolsa, se pretendem riscar os itens encontrados, na lista do supermercado. Procuram não dar espaço para o azar, em resumo.

Mas é isso aí: ou a gente toma jeito ou a lei de Murphy se encarrega de nos acomodar. Na noite do jantar, não choveu; os dedos incharam, mas não quebraram; a amiga venceu a fase da cadeira de rodas e já deve ter dispensado a muleta. Dessas escapamos,mas Murphy tem pouco a ver com isso.

2 comentários:

Blog do Simeão disse...

Marta
Parabéns pelos assuntos sempre bem enfocados.
Já li num lugar que, se a mesa tivesse uns 10 cm a mais, o pão sempre cairia com a manteiga para cima. Mas as alturas de todas as mesas é padronizada entre 80 e 82 Cm, a não ser aquelas antigas escrivaninhas feitas para quem trabalha em pé ou naquelas cadeiras de desenho. Falo em antigas pois ninguem mais usa. Mais antigas ainda são aquelas usadas pelo Churchill.
Veja o que os ingleses dizem:
Murpny's Law:
If anything can go wrong, it will.
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Murphy's Corollary:
Left to themselves, things tend to go from bad to worse.
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Murphy's Corollary:
It is impossible to make anything foolproof because fools are so ingenious.
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Murphy's Constant:
Matter will be damaged in direct proportion to its value.
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Quantized Revision of Murphy's Law:
Everything goes wrong all at once.
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O'Toole's Commentary:
Murphy was an optimist.
mesas de desenho e sim computadores com AutoCAD.

Desculpa o inglês, mas tem coisas que não dá para traduzir sob pena de mostrar outro sentido.
Simeão

Ruthe disse...

Achar uma desculpa para muitos acontecimentos desagradáveis, é mais fácil. Mas acredito que o signo tenha, sim, bastante sentido no dia -a - dia, por constatação irrefutável. De qualquer forma, também podemos dar uma mãozinha, para o Destino, e mudar muitos inconvenientes...