29 de dez. de 2009

Novo ano

Algumas pessoas são boas companhias para festas e para quaisquer momentos alegres. Podem ser chamadas à última hora, que se apresentam na maior animação. Não contem com elas para acompanhar um ente querido em longas enfermidades ou para enfrentar a vigília de um velório. Por sensíveis ou por comodistas, parecem se afligir mais que os íntimos, por isso se protegem, evitando esse tipo de situação.

Outras, ao contrário, parceiras em momentos penosos, fogem das comemorações festivas, dos aniversários alegremente lembrados, das formaturas. Reservam-se para as horas difíceis, quando se armam com a expressão do maior pesar para expressar o seu carinho e transmitir o seu apoio.

Cada um tem sua maneira de reagir aos acontecimentos e seu jeito próprio de expressar carinho. Também nós inúmeras vezes não correspondemos às expectativas alheias (há dias em que eu, por exemplo, não correspondo nem às minhas), por isso ninguém está aqui para atirar a primeira pedra. Na juventude, costumamos cobrar dos outros as reações que nos surpreendem ou desagradam; pretendemos medir a amizade pelo apoio ou a falta dele, tanto nos momentos tristes como nos festivos. Com a maturidade, aprendemos a aceitar os outros do jeito que são, valorizando principalmente as qualidades, e passamos a nos incomodar mais com as nossas próprias falhas.

Era o que acontecia naquela família, em relação à velha tia, sempre muito prestigiada. Embora fosse pessoa boa e preocupada com os seus, ela não cultivava o hábito de fazer visitas, como era usual em tempos idos, antes que o horário das novelas bagunçasse a vida social de toda a gente. Na verdade, não é que ela nunca visitasse ninguém, ela apenas se reservava para os momentos mais significativos, em geral quando a pessoa já estava moribunda, no leito de morte, prestes a dar o último suspiro. Nesse momento, costumava aparecer, com toda a pompa e circunstância, vestida de preto, com o ar compungido que o momento exigia.

A família aceitava o seu jeito de ser. No início, é óbvio que o comportamento causava estranheza, mas com o tempo passou a ser aceito com naturalidade. Surpreenderia se ela aparecesse numa festa de formatura ou de casamento. Contudo, para contrabalançar, em velórios e enterros a sua presença era garantida.
Certo dia, contudo, uma sobrinha foi visitar outra velha tia, prima da primeira, que se encontrava acamada. No meio da visita, sem muito assunto, dadas as circunstâncias, a sobrinha disse: “A tia disse que vem lhe visitar amanhã”.
Para surpresa da sobrinha, a doente ergueu meio corpo na cama e começou a gritar, chamando os filhos e netos para se despedirem. Acabara de descobrir que estava muito mal e teria pouco tempo de vida, pela anunciada visita da velha prima, que só aparecia quando o caso não tinha mais volta, como era sabido.

Dessa forma, a importante visita, em lugar de ser prazerosa e aguardada com alegria, quase apressou o final da doente.

Seja essa a mensagem, no ano que inicia: as boas notícias, as gentilezas e as oportunidades de conviver com aqueles a quem queremos bem (ou que nos fazem bem) não devem ser adiadas, sob risco de causarem efeito contrário do desejado.

5 comentários:

maybe disse...

I'm appreciate your writing skill.Please keep on working hard.^^

Ruthe disse...

Cada pessoa tem suas próprias reações diante de qualquer situação. Somos diferentes como os dedos de nossa mão, daí a beleza, pois que sem graça se fôssemos todos iguais! Não importa como reagimos, mas o que sentimos e o que fazemos, em casa, pedindo pelas pessoas amadas.
Beijos e FELIZ ANO NOVO!

Fabíola Weykamp. disse...

Conheci o seu blog através da crônica sobre o livro "Comer, rezar, amar". Também o li e tive a mesma sensação. Fiquei presa - só o larguei quando terminei. Chorei muito, ri bastante e me encantei com as histórias da Liz.

Raramente leio o jornal, mas ontem enquanto folheava o DP me deparo com um nome que me soava familiar... Era o seu. Fiquei tão feliz. Agora, para não perder nadinha do que escreves, colocarei o seu link no meu blog - também tenho um e também deixo meus rabiscos.
Um abraço e Feliz Ano Novo, recheado de muitos escritos!

Marta disse...

Olá, Fabíola. Se quiseres deixar o nome do teu blog aqui, também poderei conhecer o teu, se não te importares.

Talvez outras pessoas também gostem de conhecê-lo.

Um abraço da Marta

Fabíola Weykamp. disse...

Mas é claro que sim, Marta. Deixarei aqui o link do meu blog. http://www.versodigital.blogspot.com/
Espero que gostes. Um abraço.