18 de jun. de 2010

O trabalho infantil e o politicamente correto

Comentei, em crônica anterior, sobre a dificuldade de falar sobre temas “politicamente corretos”. O trabalho infantil é desses temas melindrosos. Lógico que seria bom se nenhuma criança ou jovem precisasse trabalhar; que todos, além das horas dedicadas ao estudo, tivessem outras de lazer. Esse seria o mundo ideal, principalmente se a essas crianças ainda fossem oferecidas tarefas extracurriculares.

O dia 12 de junho, além de dedicado aos namorados, é o Dia Internacional e Nacional da Luta contra o Trabalho Infantil. Segundo estudos desenvolvidos pelo Departamento de Medicina Social da Universidade Federal de Pelotas, preocupa a incidência do trabalho infantil, nas classes sociais mais baixas. Na faixa etária dos 10 aos 13 anos, 7,3% das crianças executam serviços, principalmente no comércio e domésticos. Na faixa entre 14 a 17 anos de idade, 20,7% dos jovens trabalham em atividades como ajudante de pedreiro, ajudante em restaurantes, vendedores, limpeza de pátios, babás e empregadas domésticas.

A maior preocupação do estudo se dirige, com razão, à desistência escolar, manifestada em grande parte dessas crianças. Por outro lado, o estudo também detectou que, em geral, o trabalho infantil se origina na extrema necessidade financeira, sendo realizado principalmente em famílias de baixa renda.

Proporcionar condições, fiscalizar e obrigar todas as crianças a freqüentarem a escola é tarefa do Estado. Mas isso não impede que, em outro turno (aquele em que crianças e jovens costumam ficar por sua conta, quando os pais estão no trabalho) eles possam executar serviços leves, auxiliando no trabalho doméstico ou aprendendo os primeiros passos em alguma profissão, sob a orientação de alguém da confiança dos pais. Isso é muito melhor, convenhamos, que deixá-los à própria sorte, já que pessoas de baixa renda experimentam maior preocupação justamente com o tempo livre dos filhos. Pessoas de maior nível financeiro têm possibilidades de encaminhar os filhos para cursos de línguas, natação, esportes em geral, de forma a gastarem a sua energia de forma sadia. Sobram quais opções para as famílias onde às vezes até a comida é pouca? Não é melhor um rapagão de 14 anos aprender jardinagem que ficar na rua, à mercê do crack e das más companhias? Ou passar a tarde em frente à TV, frustrando-se com todos os bens de consumo a que não tem acesso? Se a lei permitisse, não seria melhor uma menina de 12 anos servir de babá, no turno inverso ao estudo, recebendo o seu salário, sendo bem alimentada e com todos os benefícios proporcionados, em inúmeras casas de família, aos domésticos? Porque _ convenhamos, novamente _ meninas de 12 anos já são mocinhas bem espertas, em nossa cultura, bem como meninos de catorze.

Com essa idade, catorze, meu filho pediu para trabalhar, nas férias, por um mês. Participou de um trabalho de pesquisa sobre o movimento de determinada linha de ônibus; era fiscal. Muito orgulhoso, pegava o serviço às 6h da manhã. Sendo opção sua, era acordado pelo despertador, tomava o café e percorria oito quadras até o serviço. Aprendeu muitas coisas, inclusive que os colegas sonhavam com o salário para adquirir determinado jeans ou tênis.

Com essa idade ou pouco mais, meus irmãos trabalhavam como office-boys, de bicicleta de um lado a outro da cidade, também orgulhosos e felizes com o seu salário.

No mundo ideal, crianças brincariam à vontade e adultos só trabalhariam por prazer. No mundo real, crianças e adolescentes preparados para enfrentar dificuldades se tornam adultos mais saudáveis e bem-sucedidos.

Um comentário:

Ruthe disse...

Como professôra que fui, de tenros anos, e com tua permissão, faço tuas palavras, minhas:" No mundo real, cada um sobrevive do jeito que pode, nem sempre como gostaria."
Beijos