23 de ago. de 2011

Ao volante

O trânsito de uma cidade é o seu cartão de visitas. Em Punta del Este, quando algum automóvel avança sobre a faixa de segurança, por exemplo, desconhecendo o direito do pedestre, é comum se olhar a placa, com certeza de que não é uruguaia. Uruguaios costumam ser educados, inclusive no trânsito.

Nós, brasileiros, não temos esta cultura. Até nem é por mal, algumas vezes; falta de costume, talvez. Com uma boa e persistente campanha de educação para o trânsito, contudo, a situação poderia mudar, em pouco tempo. Principalmente se a campanha motivasse o público infantil, tornando-o parceiro. Já imaginou o controle do moleque, no banco de trás? “Olha a faixa, papai!” _ e o pai retiraria rápido o pé do acelerador. Quem quer ficar mal no conceito do filho?

Mas campanha para mudar cabeças precisa de tempo para ser assimilada, não é coisa de um sábado cá, outro lá. A mídia também precisa ajudar, voltando ao assunto, de vez em quando. E todas as faixas de segurança precisam ser repintadas, para os motoristas se conscientizarem da sua existência.

Nas escolinhas infantis, as crianças aprendem a guardar os brinquedos, cantando a música apropriada para esse momento. Em casa, a mãe inicia a canção e a criança já vai juntando o material espalhado, na maior animação. Um jingle de incentivo à gentileza no trânsito é provável que funcionasse, sem doer no bolso, como aconteceria, se multas educativas fossem adotadas.

Mas, ainda que uma campanha seja implantada e os motoristas aprendam a se comportar, os pedestres também precisam aprender novos hábitos. É comum alguns ignorarem a faixa de segurança e atrapalharem o trânsito, atravessando logo adiante. Até em frente aos hospitais alguns tomam essa atitude, mães com filhos ao colo atravessando depois da faixa, quando poderiam atravessar em segurança. O que significa que a campanha, para ser eficiente, precisaria ser dirigida a motoristas e pedestres.

Da mesma forma, reconhecido o direito do pedestre, a passagem deve ser realizada com presteza, mostrada a intenção de atravessar. Como agir, por exemplo, quando duas senhoras descem a calçada e ficam conversando, na maior tranqüilidade, como às vezes acontece, paradas junto ao meio fio? Bem que a campanha poderia mostrar, em flashes bem-humorados, os “micos” do trânsito, para que, sentindo-nos ridículos, passássemos a evitá-los.

Pois a “guerra” não acontece somente entre motoristas e pedestres. O ato de entrar no carro e assumir a direção parece acionar o botão da arrogância, em algumas pessoas. Todos os sapos que o sujeito precisou engolir, ao longo do dia, são expelidos pela satisfação de se julgar no controle. Permitir o acesso de outro veículo ao fluxo, nas avenidas congestionadas, ou atender à solicitação do motorista estacionado, desejoso de retornar a circular, são gentilezas não proporcionadas por quem precisa se sentir poderoso, de vez em quando. Melhor fingir que não viu o sinal, pedindo passagem, e seguir em frente, acobertado pelos vidros escurecidos.
Temos todos, motoristas e pedestres, muito a aprender. Campanhas educativas e persistentes são necessárias; somente a boa intenção não muda as cabeças. Mas é bom lembrar que motoristas se tornam pedestres, mal estacionam o automóvel. Trocadas as posições, será ótimo contar com pessoas educadas, atrás do volante.

Um comentário:

Ruthe disse...

A população continua muito mal educada em relação ao trânsito, sem dúvida nenhuma, em Pelotas.Parece que de nada adiantam as campanhas, para melhorar este sério problema.