22 de jan. de 2012

Teimosia

Teimosia
O filho acabou de ler a autobiografia do tenista Andre Agassi e disse que eu gostaria de lê-la. Fiz cara de dúvida, expliquei que nada entendo de tênis. “Aliás, nem sei quem é Agassi” _ completei, pensando terminar o assunto, com tanta ignorância. “É um grande tenista, agora aposentado. E sei que vais gostar, é uma história humana” _ insistiu, teimoso como a mãe.

Não se dando por vencido, passados alguns dias, chegou ele de viagem, trazendo um exemplar do livro. “Ganhei este de um amigo” _ falou. “Podia trocá-lo por outro, mas achei melhor te dar; assim, podes lê-lo quando quiseres”. Diante da gentileza, achei que devia deixar de ser chata e, pelo menos, tentar ler.

Bem, a vida de Agassi (agora já somos íntimos) me fascinou a tal ponto, que fiquei dividida entre ler sofregamente, para conhecer logo toda a história, ou protelar a leitura, para prolongar o prazer. Ao final, ainda que ampliados minimamente os conhecimentos sobre o esporte, aumentou o respeito pelos tenistas profissionais, o esforço sobrenatural exigido ao corpo, o treinamento contínuo a que precisam se submeter, a solidão enfrentada na quadra, o desempenho exaustivamente cobrado, tanto por eles como pelo público.

Mas, mais que pelo lado profissional, a autobiografia encanta pelo desenvolvimento da personalidade de Agassi, pelas relações humanas, o amadurecimento que foi acontecendo, a duras penas. Em tempos em que raramente um livro ou texto nos fala aos sentimentos ou provoca reflexões, esse merece ser lido com calma, mesmo por quem nada entende do esporte.

Deve ser lido por pais que exigem demais dos filhos, atirando por cima deles seus sonhos não realizados, esperando que descasquem esse abacaxi, queiram ou não; por professores ou monitores que humilham seus alunos, incompetentes para retirar deles o melhor, e também por aqueles capazes de descobrir o ouro encoberto, dando-lhe o brilho que merece; pelos jovens que entram em relacionamentos inconvenientes e depois não têm forças para sair deles, como pelos que sabem o que lhes serve mas se sentem sozinhos, enquanto a pessoa certa não chega. Da mesma forma que poderá fazer bem a quem sente o passo mais lento, enquanto pressente diminuir a distância dos jovens prestes a mostrar melhor desempenho.

Mas, em todo o processo de amadurecimento, encanta a franqueza com que ele se expõe e a garra com que busca o entendimento de si mesmo, sem se deixar subjugar. Surpreende o conhecimento que possui dos adversários, o respeito enorme por alguns e o desprezo por outros, por saber que, sendo grandes profissionalmente, são pequenos como seres humanos e nunca serão diferentes. E não só ele, mas muitos dos seus rivais, terminada a partida, perdida ou ganha, são cavalheiros e gentis, reconhecendo o merecimento do outro ou lamentando o seu desgaste _ atitude que seria linda de encontrar, mais seguidamente, pelas estradas da vida.

Ao final, dou a mão à palmatória: bem que o filho tinha razão e eu ia apreciar a leitura. Adorei, aliás; só me acrescentou. Teimosia é boa, algumas vezes; em outras, é a diferença entre fechar portas ou ampliar horizontes. E só não ofereço o meu exemplar para quem desejar lê-lo porque ele já seguiu em frente e tem lista de espera.

Um comentário:

Ruthe disse...

Acredito que às vezes, a teimosia é nada mais do que uma forma de caráter forte. Como tudo , na vida, precisamos saber usá-lo.
Beijos