14 de jul. de 2012

Você descobriu

Você compreendeu: está sozinho. E isso doeu. No meio de tanta gente, descobriu que, bem no fundo, em certas horas, só conta consigo. Você já tinha percebido essa situação, anteriormente: sempre que a barra pesou demais pro seu lado e faltou compreensão à volta; quando seus atos e palavras foram mal interpretados; ou quando todos foram para outro lado e ficou sozinho com as boas intenções e ideias que eles não pareceram entender.

Já tinha compreendido, mas não estava pronto para aceitar; a gente ignora ou enterra o que não consegue elaborar. Assim, você enterrou bem fundo aquela certeza. Por isso, de vez em quando, leva novo choque, como se recém tivesse entendido: você está sozinho. E a dor volta, com a intensidade da primeira vez.

Se conselho valesse alguma coisa, não se dava de graça, sei, mas acredite: é tempo de crescer. Gente crescida aceita com naturalidade a solidão que lhe pertence. Tá bem, mais com conformismo que com naturalidade, mas aceita. Em meio às pessoas mais amadas e maravilhosas, todos têm o seu momento de se descobrir sozinho, sem que seja culpa de ninguém: apenas faz parte da natureza humana. Em algum momento, você deixa de ser prioridade para aquele com quem mais contava e ele vai privilegiar a sua necessidade, garantir a sua sobrevivência, nem que seja emocional. Ou, ao enfrentar uma decisão dificílima, compreende que, independente das várias opiniões, as consequências da resolução serão suas. Pronto, você ficou por sua conta, perdeu a bengala que o protegia das asperezas do caminho.

Para muitos, isso acontece com a perda de alguém especial, embora sinais de alerta aconteçam desde a infância, quando começamos a entender que todas as verdades não podem ser ditas, e verdades dissimuladas causam fossos entre as pessoas. Mas quem aguentaria ouvir todas as verdades?

A primeira, a segunda, a terceira vez doeu demais; agora, chega. Se for esperto, você entendeu a lição: não adianta pedir socorro. Mas olhe no espelho: se gosta da sua própria companhia, ao ponto de se apressar para chegar em casa, só para ficar quieto, lendo, entregue aos seus pensamentos; ou se deleitar com uma música e outra mais, sem precisar dividir com alguém esse momento de paz; se conversa consigo e tira conclusões melhores que as apresentadas pelos outros; se é capaz de rejeitar certas presenças, por chatas ou desagradáveis, e concluir que antes só que mal acompanhado, como aprendeu lá atrás, você não está sozinho, está em sua boa companhia.

Encontra-se ainda em processo de aprendizagem, se precisa de companhia para ir ao cinema, ao restaurante, à balada; se não compra a passagem para aquela viagem desejada, enquanto não aparecer outro desejando o mesmo destino. Mas, se já aceitou a solidão como condição humana, você está no caminho certo. Logo descobrirá que pessoas que convivem numa boa com o seu interior não sugam a energia do outro, por isso são mais apreciadas.

Além do mais, um parêntese se faz necessário: quantas vezes você também deixou os outros na mão? Tudo porque precisou de um tempo para si, um espaço maior à volta, ou teve desejo de novas experiências e saiu à procura do que lhe convinha. Acredite: todos estão por sua conta e risco e vive melhor quem convive bem com essa certeza.

Um comentário:

Vera Lucia limons disse...

Muito interessante e verdadeiro o que tu escreveu Marta. Parabéns!