10 de set. de 2012

Arco-íris

Família e amigos estavam aflitos com a reação da menina, diante da separação dos pais. Tristes _ desejando que as coisas fossem diferentes e, como num conto de fadas, tudo voltasse a ser como antes, quando todos eram felizes e uns só pensavam bem dos outros _ contornavam o assunto “pisando em ovos”, para que uma palavra mal colocada não piorasse a situação.

Certo dia, a avó criou coragem e entrou no tema proibido, com toda serenidade, sondando o terreno. Para sua surpresa, foi confortada pela menina, com a paciência de quem explica o óbvio e não vê motivo para tanto desconforto. “Depois da chuva vem o arco íris, vó” _ desconversou a menina, naquele seu jeito meigo.

Observadora, talvez a menina já estivesse preparada para o desfecho; ou quem sabe ficou mais tranquilo o relacionamento entre os pais, após a separação, e isso lhe proporcionou a certeza de que o seu mundinho seria o mesmo, pais juntos ou separados, pois o seu lugar estava garantido, no coração de ambos. Ou imaginou que poderiam fazer as pazes..., ou lembrou amiguinhas filhas de divorciados e pensou que também pareciam felizes... Poderíamos nos perder em conjeturas, sem saber o que passou pela cabeça da menina, colocada frente à realidade.

Qualquer que tenha sido a sua motivação, contudo, fica a sabedoria da comprovação, na boca da criança: depois da chuva, vem o arco-íris. E o arco-íris é tão lindo _ penso _ que, quando aparece, qualquer que tenha sido o estrago feito pelo temporal, a gente se sente renovada e cheia de força para recomeçar. O arco-íris traz esperança de que as coisas vão se acomodar, os galhos caídos das árvores serão recolhidos e mais tarde transformados em lenha, o sol secará os campos encharcados e o pasto ficará verde, como acontece após a chuva. É que a natureza, como a vida da gente, está sujeita a transformações inesperadas. Quando menos se espera, pode vir uma chuva daquelas tocadas a vento, virando mesas e guarda-sóis, molhando toalhas e destruindo a decoração e tudo o que levou tempo e esforço para ser preparado. Ou a vida, que parecia tão organizada, de repente vira de cabeça para baixo.

Menos mal que, de vez em quando, alguém lembra que nada é definitivo e até a dor que parece irremediável um dia vai acabar; mais cedo ou mais tarde, é certo que o arco-íris aparecerá, como prenunciou a menina, acalmando seu coração. E quando o arco-íris aparece, ainda que se relute e se tente ficar preso ao que passou, não há como evitar: a transformação começou.

7 comentários:

Geni Tavares Camargo disse...

Amei! Bjs

Beatriz Lang Passos Bonat disse...

Disseste tudo, como SEMPRE. Bjs

Nailê Russomano disse...

PERFEITA, BEM ESCRITA, como tudo que escreves. E Muito Linda. Parabéns, querida.

Beatriz Lang Passos Bonat disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Marta disse...

Por engano, o comentário da Beatriz saiu duas vezes. Somente nesta circunstância o comentário é excluído, pois todos são bem vindos.
Que bom que vocês apreciaram o conteúdo desta cronica.

Voltem sempre, inclusive para malhar e discordar, quando for o caso.

Lidia Soares disse...

Marta, adorei tua crônica, como sempre!!! Beijo

Ruthe Peters disse...

Marta!

Amei, adorei, me emocionei, chorei e senti muita alegria, também, ao ler a crônica Arco-íris. Bjs