Procuro compensar o excesso de distração com anotações conservadas no computador, às quais recorro sempre que necessário. Comemorações diversas, como aniversários familiares e festas natalinas, por cuja organização me responsabilizei, são anotadas nos mínimos detalhes, na intenção de preservar o que deu certo e evitar a repetição dos mesmos erros, ano após ano, o que terminaria por rotular a dona da casa como desinteressada em agradar aos convidados. E, quando alguém se dispõe a receber seja lá quem for, imagino que seja óbvio o prazer em receber.
Assim, além do número e nomes dos convidados, anoto o cardápio, o que foi apreciado, o que não deu certo, se as receitas foram fartas, como os funcionários se saíram, se foram suficientes, se algum deverá ser substituído, em outro evento (falo do pessoal de serviço, não dos convidados, que não desejo ser mal interpretada). Tudo isso porque, algumas comemorações sendo anuais, não posso contar com essa cabecinha fraca, muito minha conhecida.
Para não cometer erros fatais, procuro apresentar dois pratos principais, lembrando a amiga com alergia a camarão, por exemplo, a outra com alergia a presunto e aquela que não aprecia galinha _ justamente a única opção que lhe ofereci, quando me atrapalhei sobre o bicho que ela detestava.
Esse costume de anotar tanto os preparativos como as conclusões, após o acontecimento, costuma surpreender as pessoas, quando por acaso são inteiradas dele. Certa vez, ao comentar sobre tais anotações, falei, inadvertidamente, que, para facilitar, aproveitava os recursos do Word e colocava em vermelho o que não havia dado certo e, inclusive, os convidados que não haviam comparecido. Senti, de imediato, que havia causado certo tititi entre alguns e, para me divertir, não expliquei a razão verdadeira de tal comportamento, que é ter uma estatística dos comparecimentos, para facilitar o cálculo futuro dos comes e bebes.
Com a repetição das anotações, por exemplo, percebi que reuniões na casa da cidade têm quebra pequena no número de participantes, enquanto as realizadas na fazenda têm quebra maior, conservando certo núcleo de amigos que, chova ou faça sol, dificilmente deixam de comparecer, para alegria dos anfitriões. E a confidencia inadvertidamente feita redundou em brincadeiras, jovens amigos controlando quem faltou na última comemoração, “que assim a tia Marta não vai mais convidar” _ coisa que não falei, mas deixei rolar, pra me divertir.
Perfeição não existe, em nenhum setor, por mais que alguém se esforce: imprevistos acontecem, erros de cálculo, falhas nossas e de outros. Mas o esforço para melhorar e atender bem a quem nos prestigia, o prazer de procurar fazer bem feito, seja lá o que for, é o diferencial de alguns.
É comum que alguém se estabeleça com algum negócio, invista mais do que desejaria na apresentação, e depois peque pelo mau atendimento ou pela qualidade dos produtos oferecidos. Inicialmente, por apreciarem novidades, os consumidores ou clientes comparecem, às vezes até retornam, para saber se o dono acertou o passo, depois desistem e procuram novos locais. Sem perceber que o erro foi seu, tais empreendedores costumam atribuir a culpa ao público, enquanto fecham as portas, desiludidos.
Em outras ocasiões, o sujeito faz todo o trabalho difícil e, no último momento, deixa sem pintura justamente o que salta aos olhos. O olho do dono é aquele olho crítico, procurando as falhas. Pode errar _ e erra muitas vezes _ mas a gente sabe quando andou por ali ou fugiu da raia.
5 comentários:
Querida Marta!
Esta tua preocupação em acertar, para que tudo dê certo, é fantástica.Ela é trabalhosa, mas vale à pena, com certeza!
Li, amei! bjs
Lemos, nos reconhecemos, reconhecemos amigos e rimos muito! Beijos.
Para variar, uma crônica imperdível! ABRAÇOS. Diz ao Henrique que estou doida por outra costelinha de cordeiro mamão (na praia na casa de Leonardo e Alice)! Lembras?"
Está maravilhosa....bjs
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